No coração de uma floresta onde as copas das árvores tocavam o céu e os pirilampos dançavam como estrelas, vivia uma criatura mágica chamada Yurí. Era pequenino, veloz como o vento e tinha o cabelo despenteado como raízes selvagens. Usava uma capa feita de folhas secas e tinha a gargalhada mais contagiante da floresta.

Ninguém sabia ao certo de onde vinha Yurí. Uns diziam que nasceu do sussurro das árvores, outros que caiu do céu numa noite de lua cheia. Mas todos sabiam que ele era o guardião da floresta mágica. Era generoso e brincalhão, e adorava pregar pequenas partidas: trocava setas dos caminhos, escondia os sapatos de quem adormecia sob as árvores e ria com uma alegria que fazia até os pássaros cantar.

Um dia, chegou à floresta uma menina chamada Clara, com o seu caderno de desenhos e uma pergunta no pensamento:

— Onde estará o tesouro escondido da floresta?

Tinha ouvido os mais velhos do seu povoado dizerem que, entre aquelas árvores antigas, havia um tesouro tão valioso que não podia ser medido em ouro. Só podia ser encontrado por quem soubesse ver com o coração.

Enquanto Clara explorava, começou a notar coisas estranhas: pedras que formavam setas, cogumelos que pareciam sorrir, e uma gargalhada leve que ecoava entre os ramos.

— Quem está aí? — perguntou Clara, meio curiosa, meio desconfiada.

— Sou o Yurí, guardião desta floresta — respondeu uma voz alegre do alto de uma árvore. — Estás à procura de algo?

— Sim. Do tesouro escondido. Sabes onde está?

Yurí saltou e aterrou à sua frente. Os seus olhos brilhavam como gotas de orvalho.

— Talvez sim... talvez não. Mas primeiro diz-me: por que o queres encontrar?

Clara pensou por um instante.

— Não quero riquezas. Só quero saber o que torna esta floresta tão especial.

Yurí sorriu.

— Boa resposta. Então vem comigo.

Caminharam entre folhas pequenas como estrelas, atravessaram riachos com pontes de raízes entrelaçadas, e ouviram os segredos do vento entre os ramos. Até que chegaram a uma clareira com uma árvore enorme, de tronco largo e casca macia como algodão.

— Olha ali — disse Yurí.

Clara agachou-se e encontrou uma caixinha feita de madeira antiga. Abriu-a com cuidado e, lá dentro, encontrou... um espelho.

— Um espelho? — murmurou.

— Sim — respondeu Yurí. — Porque o verdadeiro tesouro da floresta é quem sabe ver a sua magia. E essa pessoa... és tu.

Clara sorriu, e desde esse dia nunca mais deixou de visitar a floresta. Ia desenhar, ouvir, e rir com Yurí, que às vezes lhe escondia as borrachas só para brincar, mas sempre deixava pistas para ela as encontrar.

E dizem que, se algum dia ouvires uma gargalhada suave vinda do meio das árvores, é Yurí a preparar mais uma pequena partida... ou a mostrar o caminho para quem procura com o coração.